sábado, 24 de maio de 2008

Declínio de desempenho escolar no Ciclo II do Ensino Fundametal

Segue um esquema resumido da minha dissertação de mestrado, são trechos retirados da dissertação que serviram para a apresentação da minha banca.

"Declínio de desempenho escolar no Ciclo II do Ensino Fundamental de Alunos que tiveram Desempenho satisfatório no Ciclo I"

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da
Profª. Drª. Luciana Maria Giovanni.

Rafael dos Santos Borges.
São Paulo 2008

A pesquisa seguiu dois eixos direcionais:

•Questões objetivas como organização, status da escola, condições do prédio, condições de trabalho e de ensino e;
• Questões subjetivas, busca a visão dos sujeitos inseridos nessas escolas sobre suas experiências escolares.
•A escolha de duas escolas públicas estaduais da região metropolitana de São Paulo, Osasco-SP, uma de centro e outra de periferia foi determinante para a pesquisa. Com diferentes status e condições de funcionamento, escolas públicas localizadas em regiões mais distantes e mais pobres da cidade sofrem mais com o abandono do Estado e da própria sociedade, do que as escolas públicas localizadas em bairros centrais ou de classe média – com um handicap inverso.

Referencial teórico:

O tema (...) remete a toda uma série de problemas que é importante distinguir se quisermos ver a questão de um modo um pouco mais claro e não ceder à moda que busca explicar a exclusão por meio das idéias mais consolidadas sobre desigualdade das oportunidades escolares:
•O primeiro deles é que o lugar da escola numa estrutura social perpassa os mecanismos de exclusão. É importante saber o que se refere à sociedade e o que se refere à escola. Ou seja, qual é o lugar da escola numa estrutura social que desenvolve processos de exclusão?
•O segundo tipo de problemas concerne à análise dos mecanismos propriamente escolares que engendram uma segmentação escolar determinante na formação dos percursos de exclusão.
•Pode-se, por fim, evocar as conseqüências dessa mutação sobre a natureza das próprias experiências escolares, a dos professores e a dos alunos (DUBET, 2003b, p.30)

Os marcos conceituais são os relacionados às desigualdades sociais que se apresentam nas escolas, bem como às desigualdades que escola produz; assim, as experiências escolares e construção da subjetividade dos sujeitos se fazem e se constroem a partir daquilo que lhe é dado objetivamente.
O ciclo II foi encarado como momento chave nas trajetórias escolares e de entrave no sistema educacional brasileiro.
Através da seleção teórica pode-se o encarar como mais complexo e indefinido para os alunos que o vivenciam e somando-se aqui circunstâncias da rede estadual paulista marcada ela própria por indefinições na política educacional e precariedade de atenção para tal fase.

As Questões Norteadoras:

•O fracasso ou insucesso escolar aumenta no ciclo II do ensino fundamental?
•Quais circunstâncias têm levado, a cada caso de fracasso identificado nas escolas investigadas?
•Que perspectivas os alunos nessas circunstâncias expressam em relação à escola?
•Há mudanças em relação ao que esperavam no ciclo I do ensino fundamental?

O fracasso ou insucesso escolar aumenta no ciclo II do ensino fundamental?

Entre os 96 aunos pesquisados 51 declinaram em desempenho do Ciclo I para o Ciclo II e nenhum conseguiu superar os problemas do Ciclo I.

Quais circunstâncias têm levado, a cada caso de fracasso identificado nas escolas investigadas?

•As condições objetivas das escolas (status da escola, infra-estrutura, conservação, organização pedagógica, contexto social, inserção urbana) interferem muito na experiência escolar, na construção da subjetividade e no destino dos alunos, bem como determinam suas trajetórias escolares.
•A experiência escolar na Escola Central do aluno que teve algum declínio do Ciclo I para o Ciclo II, ou mesmo com marcas fortes de fracasso escolar, os permite ter melhor relação com saber e o conhecimento do que os alunos da Escola de Periferia, com marcas tênues de insucesso, e até mesmo com marcas de sucesso.
• O descuido do poder público, especialmente com a Escola de Periferia relega aos alunos a uma experiência escolar vazia de sentido, significado e aprendizado. As estratégias heróicas e esporádicas dos agentes escolares, professores e alunos, não dão conta da ampla carência de recursos objetivos (infra-estrutura, condição docente segura, continuidade do trabalho pedagógico).

Que perspectivas os alunos nessas circunstâncias expressam em relação à escola? Há mudanças em relação ao que esperavam no ciclo I do ensino fundamental?

Os significados que cada aluno atribui à escola mudam, se fragilizam e se tornam difusos. Os alunos mudam a visão que têm da escola de um ciclo para o outro, além do julgamento e melhor compreensão da complexidade das relações sociais na escola, eles buscam reciprocidade nas relações com os professores, os pares e no trabalho escolar. Elegem professores que mais gostam e os que rejeitam , assim como separam os colegas e professores em grupos e os rotulam.
Nas duas escolas os alunos lançam mão de estratégias para sobrevivência escolar, garantindo notas mínimas nas matérias em que têm mais dificuldade, o que lhes permite “ter notas vermelhas” nas matérias que sabem mais e que podem ser recuperadas facilmente, para investir nas matérias que consideram mais difíceis, “garantindo nota”, para poder avançar em sua trajetória escolar. Os professores esperam que os alunos tenham mais autonomia na medida em que avançam na trajetória escolar, preocupam-se mais com a continuidade da vida escolar dos alunos do que com o processo de ensino e aprendizado.
Todo o trabalho encontra-se disponível, com livre reprodução no link: http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=6624

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Escola de Período Integral: Dá para confiar?


Os assuntos controvertidos que recaem sobre a Educação em 2008 são por si só controvertidos por recaírem sobre Educação. Educação é o assunto mais importante para Humanidade desde que ela se compreende como Humanidade, é só através da Educação que a Humanidade continua Humana. Foi no começo da modernidade capitalista que a Educação ganhou traços ainda mais controversos, pois na medida em que os homens deixavam as roças e o trabalho em família para trabalharem como operários em fábricas nas cidades, mais se afastavam das famílias e se tornavam homem-só e sem tempo para educar os filhos, então surgiu a controvertida Escola, aonde também os humanos recém chegados (crianças e jovens) aprendem com os mais velhos e mais sábios aquilo que tem mais valor: o conhecimento, o saber.
A polêmica que atual mudança da Secretaria Municipal de Educação sobre a expansão do período para integral em todas as escolas municipais causou é natural e traz uma questão de fundo muito complicada: Devemos confiar a educação, a vida e o futuro dos nossos filhos às escolas? Aos professores? Ao governo? Ao Estado?
Eu confiaria. Não só porque sou professor, mas porque, no caso específico trata-se de escolas públicas da minha cidade, logo minha escola.
Eu desconfiaria. A expansão do tempo da jornada escolar já era prevista desde 1989, por recomendação da ONU durante a Convenção Mundial sobre Crianças e Adolescentes, desde 1990, com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), desde 1996 na LDB. Portanto, a expansão para período integral se faz por pressão de outras esferas do governo (estadual e federal) e internacional. Assim Olímpia - São Paulo-Brasil sobem no ranking de educação da Unesco.
A rede pública estadual tem um péssimo modelo de escola de período integral, expandiu o período sem reformar as escolas e sem definir o currículo. Quando se deu por conta fez um sem número de crianças padecerem com ociosidade em escolas precárias, verdadeiras FEBEM(s) diárias. As reformas vieram com alunos dentro e somente durante no ano letivo de 2007 se fez o currículo. Isso, pois o projeto (RES, SEE/SP- 89 de 09/11/2005) privilegiou as escolas em zonas com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e as das periferias urbanas, ou seja, se fez escolas pobres para alunos pobres. Além do mais o governador candidato à presidente Geraldo Alckimim tinha muita pressa em transformar as escolas em período integral.
Há bons exemplos em vários municípios pelo Brasil como o Rio de Janeiro (nos CAICs do Brizola) e Porto Alegre desde década de 90, a cidade São Paulo desde 2000 (nos CEUs), Barra do Chapéu -SP, Uberaba-MG (nos CAICs do Collor). Isso porque eles trabalham com alunos jovenzinhos de cinco anos aos 11 ou 12, quando os pais acompanham mais a vida escolar dos filhos. Mas também porque nesses municípios a comunidade educativa (que é a família, a própria comunidade escolar e o cidadão) é mais atuante. A comunidade educativa se ocupa de todas as modalidades de educação, a escolar e a extra-escolar, e cobrança na esfera municipal é mais fácil.
Em Olímpia basta pressionar o Conselho Municipal de Educação e a Secretaria Municipal da Educação para assegurar a participação da comunidade no aperfeiçoamento da educação municipal. Basta que os pais acompanhem a vida escolar dos filhos. Com a supervisão dos pais e da comunidade a expansão do tempo das crianças na escola resultará em crianças bem educadas e instruídas. Devemos confiar, pois a escola, como toda a educação é de responsabilidade da família e da comunidade e assunto para os melhores profissionais: os professores.
Obrigado,
Rafael dos Santos Borges
(Coordenador da SME-SP, Professor História SEE-SP. Mestre em Educação PUC-SP)